Usuários cobram fortalecimento da rede de atenção psicossocial e fim dos manicômios
Ato marcou o Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18 de maio) em Vitória. Veja as fotos aqui.
Eles também são contrários às comunidades terapêuticas, manicômios e a formas de internação compulsória ou involuntária, sendo a favor de um atendimento mais humanizado e sem aprisionamento para quem depende dos serviços.
Usuária do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Cidade, em Cariacica, Miriam de Oliveira cobra mais investimento público para contratação de profissionais para a unidade.
“O governo deixou a desejar, pois estamos sem recursos humanos (RH). Os profissionais são muito bons. Mas alguns são trabalhadores voluntários. A demanda é muito grande, e o RH é pouco. Lá tem duas/dois psicólogas/os, mas deveria ter seis”, disse.
Apesar da falta de recursos humanos, Míriam gosta do atendimento que recebe no Caps e faz coro contra as comunidades terapêuticas. “As residências terapêuticas têm cuidadores que não têm o conhecimento para tratar de quem tem transtorno psicótico”, criticou.
Ela subiu no caminhão de som de apoio ao ato e cantou uma música com um refrão bem criativo.
“Meu médico não sabe como me tornar uma pessoa normal”, cantarolou, citando nomes de remédios dados aos pacientes de transtorno mentais nos demais versos da canção.
O artista plástico Teófilo Roberto de Souza é usuário do Caps Laranjeiras. Ele também solicita mais verbas públicas. Por outro lado, reconhece o bom tratamento prestado pelos trabalhadores do centro.
“Faltam recursos humanos e mais investimento público. Mas os funcionários dos Caps que conheço são profissionais que se dedicam ao paciente e trabalham como carinho e atenção”, avaliou.
Quando perguntado sobre internação compulsória, Teófilo questionou de maneira taxativa: “para que essa p.? Isso não é funciona”.
Seguindo essa linha, o também usuário do Caps Cidade, em Cariacica, John Lennon da Silva mostrou uma posição em sintonia com a Luta Antimanicomial.
“O povo quer tirar manicômios e colocar mais Caps. Manicômio só piora a situação”, alertou.
O ato
O Dia Nacional da Luta Antimanicomial foi promovido pelo Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial, com apoio do CRP-16.
Profissionais que atuam na rede de atenção, usuários dos serviços de saúde mental junto de seus familiares e estudantes de Psicologia, Educação Fisica, Terapia Ocupacional, Pedagogia e Serviço Social marcaram presença no ato, realizado no sábado, 18 de maio, na Praia de Camburi, em Vitória.
Além das músicas e danças, oficinas de artesanato, o ato foi espaço de mostrar os avanços da Luta Antimanicomial, bem como de ratificação do posicionamento favorável ao fim dos manicômios e das comunidades terapêuticas.
“Quem tem problemas com drogas precisa de cuidados na sua singularidade e liberdade. As comunidades terapêuticas têm que acabar, pois são totalmente contra nossa luta”, frisou a assistente social e representante do Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial Niceia Malheiros.
A presidente do Sindicato dos Psicólogos no Espírito Santo (Sindpsi-ES), Gliciane Chagas Brumatti reforçou o apoio da entidade à luta antimanicomial.
“Queremos reforçar todo o nosso trabalho na luta antimanicomial. Que a gente viva uma vida sem manicômios”, pontuou.
Avaliação
Para a conselheira do CRP-16 Sanny Ferreira de Jesus, o ato foi ótimo ao promover a interação entre os atores da rede de atenção à saúde mental.
“É importante esse encontro dos usários dos serviços e de seus familiares com os profissionais que atuam na área. Essa mistura, essa troca de informações é muito legal. Os usuários vêm confraternizar e participar da luta, mostrando suas produções nas oficinas. E é importante destacar que a Psicologia esteve presente. O Conselho, o Sindicato, estudantes de Psicologia e de outras áreas também, pois a questão antimanicomial é multisetorial”, analisou a conselheira.
A psicóloga Camila Mariani, representante do Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial, avaliou o ato como um momento positivo e rico, destacando que a luta continua sempre.
“Essa luta é cotidiana, para que a luta esteja presente nos serviços, na sociedade, na nossa cabeça. Agradeço a todos. A luta antimanicomial vai continuar mesmo tendo muitos que são contra”, revelou.
PDC 234/2011
O ato foi momento de outra importante luta travada pela Psicologia. Assinaturas foram recolhidas contra o Projeto de Decreto do Legislativo (PDC) 234/2011, que visa sustar artigos da resolução CFP nº 001/1999.