Dia Mundial de Luta Contra a Aids: “fazer teste de HIV não é como furar o dedinho para medir a glicose”
Professora de Psicologia da Ufes critica ações de testagem rápida e falta de diálogo nas políticas do governo
1º de dezembro é Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Em 2014, essa luta faz 30 anos. E o Ministério da Saúde lançou a campanha Atitude contra a Aids, promovida com a tag: #partiuteste. “É simples e o resultado pode sair em 30 minutos”, informa o texto da campanha, no Facebook do Ministério da Saúde, quando se refere ao teste do HIV. O comunicado informa ainda que o teste pode ser feito nas unidades de saúde do SUS.
Para a professora do curso de Psicologia da Ufes e militante nessa área, Maria Amélia Lobato Portugal, a testagem rápida pode ser vista como um avanço, mas é preocupante a forma como ela vem sendo conduzida.
“Não havia teste rápido. Foi uma briga importante, mas para onde estamos caminhando? Da forma que muitos testes têm sido feitos, não há privacidade. Teste de HIV não é como aferir pressão. Não é como furar o dedinho para medir a glicose. É uma pressão social gigante”, argumenta a professora.
Sobre vender o teste de saliva em farmácia, Maria Amélia questiona: “É uma questão individual a esse ponto? Compro o teste me tranco no quarto ou vou ao meio de sala fazer na frente da família toda? Se a testagem é importante, ela tem que ser acompanhada e fundamentada. E não apenas se gastar dinheiro público com isso”.
Para ela, uma das justificativas do aumento de 50%, nos casos entre jovens, nos últimos seis anos, pode ser reflexo da forma tecnicista que a questão vem sendo tratada sem um amplo debate.
“Falta diálogo. Cadê a voz dos HIV positivos? Cadê o trabalho psicossocial? É nessa linguagem que a gente vai transformar alguma coisa? Tem que se falar da dificuldade de usar a camisinha e não apenas ficar ditando regra. Não quero ser polícia de jaleco”, critica Maria Amélia.
Segundo a docente, a rede de centros especializados em aids e DST’s deveria ser ampliada pelo governo, garantindo a privacidade do indivíduo e o atendimento psicossocial com números de profissionais para atender a demanda por esse atendimento. Em vez de levar essa demanda para a atenção básica, já que é possível fazer a testagem de HIV em unidades de saúde.
Amélia ainda criticou uma das formas com que o patriarcado da sociedade brasileira atinge a luta contra a aids. Haja vista a promoção feita em torno dos preservativos. Quando há campanhas nesses sentido, elas se referem muito mais à camisinha masculina. Já as campanhas de camisinhas femininas são raras, como se mulher não pudesse ser orientada e informada para usar o preservativo feito para elas.