Revista 20 anos CRP-16: leia a entrevista com a conselheira coordenadora da Comissão Psicologia e Pessoas com Deficiência do CRP-16
POR IGUALDADE DE CONDIÇÕES
Comissão Psicologia e Pessoas com Deficiência atua para romper barreiras
Primeira pessoa com deficiência (Pcd) a integrar o plenário do CRP-16, a psicóloga Edireusa Fernandes Silva (CRP-16/3016) é coordenadora da Comissão Psicologia e Pessoas com Deficiência (CPPcd) do CRP-16. Nesta entrevista, ela fala da criação, do trabalho e da nova sede do Conselho, que garantirá a acessibilidade para Pcd. Confira abaixo.
– Quando foi criada a Comissão de Psicologia e Pessoas com Deficiência do CRP-16?
A criação da Comissão Psicologia e Pessoas com deficiências(CPPcd) do VII Pleno do CRP-16, foi aprovada pela Plenária realizada em 19/08/2023 e têm origem a partir do Grupo de Trabalho Psicologia e Acessibilidade que considerou a importância de transformar o GT em Comissão para dar continuidade às ações de acessibilidade no CRP-16. A Comissão é composta por psicólogas e psicólogos com deficiência, integram a comissão o conselheiro José Antônio Souto Siqueira, a psicóloga colaboradora Raiza Meir Knust Leppaus e eu como coordenadora.
A comissão propõe amplo debate sobre interseccionalidades e transversalidades da deficiência, entendendo a importância de promover o rompimento das barreiras impostas pela sociedade ao longo da história. Preocupa-se com a atuação da(o) profissional de psicologia, bem como as nuances da formação da(o) profissional de Psicologia, visando o tratamento em igualdade de condições, conforme preconiza a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com deficiência e Lei Brasileira de Inclusão.
– Há dados sobre o quantitativo de psicólogos com deficiência inscritos no Conselho?
O CRP-16 ainda não tem dados precisos quanto ao quantitativo de profissionais psicólogas(os) com deficiência que estão atuando no ES, devido ao fato de que as(os) profissionais inscritos e ativos não informam em seu cadastro no CRP-16 sua identificação enquanto pessoa com deficiência, por isso, aproveito para destacar a importância de atualizarem seu cadastro e inserir esta informação de modo a ampliar esses dados que poderão refletir em políticas de inclusão no Sistema Conselhos, bem como em sua atuação profissional.
O que temos de dados é o Censo Psi2022 publicado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), em 2022 que leva o título: “Quem faz a Psicologia Brasileira”, que contemplou a diversidade funcional mostra. Este censo aponta que dentre os 20.207 profissionais inscritos e ativos que responderam a pesquisa, 8.762 são da região sudeste, entre os quais apenas 5,5% se declararam como pessoas com deficiência. O censo da psicologia aponta que dos inscritos nos regionais no Brasil 94,6% declaram não ter nenhuma deficiência apenas 5,4% se identificam como pessoa com deficiência. Considerando que o número de pessoas com deficiência no Brasil gira em torno de 17,3 milhões, o censo destaca que a psicologia abriga ainda uma porcentagem ínfima de profissionais com deficiência, por isso ressalta que os esforços do Sistema Conselhos devem continuar no processo de buscar conhecer quem são esses profissionais, se estão atuando, área de atuação e onde atuam.
– O Conselho terá uma nova sede para garantir mais acessibilidade e tem buscado colocar intérprete de Libras nos eventos que realiza. Há mais avanços que você destacaria nesse sentido? E quais são os desafios que estão postos para o CRP-16?
A aprovação da reforma da sede pelo VII Plenário do CRP-16 se deu a partir do reconhecimento da necessidade de promover acessibilidade no CRP-16. O Planejamento Estratégico do VII pleno contempla ações visando adequação de acessibilidade no CRP-16 considerando a infraestrutura, o acesso a informação e gestão de Acessibilidade. Para tanto, foram avaliadas necessidade de adequações da infraestrutura juntamente com o projeto de reforma da sede.
Quanto ao acesso a informação, foi realizada uma análise do site do CRP-16 que culminou em um relatório apresentado ao plenário, no qual apontou-se a necessidade de inserir no site, a acessibilidade em Libras e adequação para o acesso ao site por dispositivo de leitura de tela, além de melhorias para a acessibilidade nos eventos, sendo providenciada a contratação de profissional tradutor e intérprete de Libras. Além disso, estamos buscamos aprimorar a acessibilidade para a transmissão dos eventos ao vivo. No que tange a acessibilidade de gestão foram realizadas dois dias de formação voltada à equipe e conselheiras (os) do CRP-16.
Entre os desafios que no momento estamos buscando avançar para ampliar a acessibilidade é a aproximação das(os) psicólogas(os) com deficiência nas atividades do CRP-16, por isso aproveito para convidar todas e todos que participem das reuniões abertas da Comissão Psicologia e Pessoas com deficiência(CPPcd) e tragam suas contribuições que serão valiosas para avançarmos no processo de acessibilidade em nosso conselho. Outro desafio que não podemos deixar de ressaltar é a barreira atitudinal, acredito que seja um desafio não somente para o CRP-16, mas para a sociedade em geral, visto que abandonar atitudes e falas capacitistas construídas e naturalizadas ao longo da história da sociedade requer um esforço cotidiano, para não reproduzir atitudes que não configurem tratamento em igualdade de condições conforme preconizado pela Convenção sobre os Direitos da Pessoa com deficiência e Lei Brasileira de Inclusão.
-Para além das questões legais para o exercício profissional, como foi a sua aproximação com o CRP-16?
Minha trajetória no conselho começou quando ainda estava na faculdade a partir do incômodo de não encontrar, na formação, informações sobre o funcionamento do conselho, suas atividades e formas de participação de estudantes neste espaço, fui buscar no site do CRP quais as atividades possíveis para participação, enquanto estudante e encontrei uma publicação de reunião aberta da comissão de educação na qual passei a participar, sempre que havia reunião aberta da comissão de educação e comissão de saúde, a partir disso, passei a participar dos preparatórios para o congresso Regional(COREP) e Nacional de Psicologia(CNP). Em todas as participações, sempre pontuei a necessidade de a psicologia lançar um olhar mais atento para as questões de políticas de inclusão no Sistema Conselhos e elaboração de documentos orientativos para psicólogas(os) quanto ao atendimento voltado ás pessoas com deficiência. Esta participação gerou o convite para representar o CRP-16 no Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONDEF) como psicóloga colaboradora, período de grande aprendizado sobre funcionamento de Conselhos de Direitos e também dos fluxos de funcionamento do CRP-16.
Por reconhecimento da minha atuação, recebi o convite para compor a comissão de educação onde assumi a coordenação. Ainda como psicóloga colaboradora, fui convidada para compor chapa na eleição do VI pleno, que uma vez eleita, assumi a diretoria no cargo de tesoureira. No VII pleno do CRP-16 assumi a tesouraria até fevereiro/2024 e atualmente coordeno a Comissão de Psicologia e Pessoas com deficiência (CPPcd), componho as comissões de educação e comissão de patrimônio, além de acompanhar as ações das pautas referente as 30h e implementação da Lei 13.935. No Conselho Federal de Psicologia (CFP) componho o Grupo de trabalho que está trabalhando na elaboração de nota técnica e resolução para orientação profissional quanto ao atendimento a pessoas com deficiência.