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“Quando ele chega na prática do ato infracional, nós – o Estado, já falhamos”

Postado no dia 26 de junho de 2013, às 18:36

Juiz Vladson Bittencourt expõe falha do poder público ao falar sobre adolescentes em conflito com a lei, durante encontro do Crepop para entrega de referências

Evento lotou auditório da Casa do Cidadão, em Vitória

Evento lotou auditório da Casa do Cidadão, em Vitória

“Quando ele (adolescente) chega na prática do ato infracional, nós – o Estado (poder público em geral) já falhamos. O que falta para ele é uma coisa que nossos filhos têm. E ele não – oportunidade. Em sua grande maioria (os menores em conflito com a lei) são aqueles que tiveram menos oportunidades”, destacou o juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude de Vila Velha, Vladson Couto Bittencourt.

Ainda de acordo com o magistrado, as medidas socioeducativas em meio aberto permitem a ressocialização exatamente onde ela tem de acontecer – no meio da sociedade.

“As medidas Socioeducativas em Meio Aberto são aquelas que permitem o jovem de reconhecer o seu erro. Como se pode falar em ressocializar tirando-o da sociedade? Não faz muito sentido. É como se tirasse alguém da escola por não saber ler”, questionou.

O juiz expôs sobre o tema durante o encontro do Crepop/CRP-16, em que foi realizada a entrega coletiva das referências técnicas a profissionais que atuam no Sistema Prisional e em Medidas Socioeducativas em Meio Aberto.

O evento lotou o auditório da Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos (Semcid), na Casa do Cidadão, em Vitória, nesta quarta-feira, 26. Além de psicólogas e psicólogos, assistentes sociais e operadores do Direito também participaram do encontro.

Construção
A primeira mesa redonda do encontro trouxe as psicólogas Maria Márcia Badaró Bandeira e Hebe Signorini Gonçalves, que colaboraram na construção das referências técnicas para o Sistema Prisional e para os Programas Socioeducativos em Meio Aberto, respectivamente.

Elas mostraram os avanços e embates no processo de construção das referências.

“Construir a comissão “ad hoc” (que elaborou o documento) não foi uma coisa fácil, pois tem gente de todo o País. Pode parecer que quando surgem essas referências, alguém pode achar que elas caem do espaço. Mas não é bem assim. A pauta do psicólogo no Sistema Penitenciário vem sendo discutida há anos”, afirmou Márcia Badaró.

Ela atuou no sistema prisional no Rio de Janeiro e contou sobre as dificuldades de se elaborar as referências, problematizando as relações entre os demais profissionais que atuam na área, as mudanças nas leis com o passar dos anos, bem como os encontros e fóruns para aprofundar o debate.

A psicóloga se espantou quando fez uma pergunta aos presentes no auditório. “Quantos são concursados aqui que atuam no Sistema Prisional? (Apenas uma psicóloga levantou a mão).

Diante disso, ela questionou: “Como fazer uma política que requer uma transformação em longo prazo numa situação de contratos temporários, que fragiliza a luta política das pessoas”?

A promotora Luciana, o juiz Vladson, as psicólogas Márcia e Hebe, e a conselheira do CRP-16 Danielle, durante o debate

A promotora Luciana, o juiz Vladson, as psicólogas Márcia e Hebe, e a conselheira do CRP-16 Danielle, durante o debate

Sistema falido
A psicóloga Hebe Gonçalves atua como coordenadora de programa para adolescentes em conflito com a lei no Rio de Janeiro. Ela falou sobre relatórios de diagnósticos do Sistema Socioeducativo, que foram feitos, por diversas organizações, no início dos anos 2000, cerca de 10 anos após a entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente – Ecriad.

“Eles (diagnósticos) trazem uma unanimidade: que é a falência do Sistema Socioeducativo. E não há privilegiados nessa história. O Espírito Santo está mal. O Rio de Janeiro, o Pará. Está todo mundo mal na foto. Todo o sistema socioeducativo está falido. E não é local. É nacional”, afirmou.

Ela também citou os trabalhos de construção da referências, mostrando a dificuldade de inserção do adolescente em conflito com a lei, mesmo no Meio Aberto.

“A gente trouxe para dentro da norma técnica, o depoimento de colegas que relatam que os médicos nas unidades hospitalares, dizem: é menor infrator, então não vou atender. De não conseguir matrícula em determinada escola, por ter cumprido pena. É real e é real pelo Brasil inteiro. Se a gente tecia crítica aos códigos de menores, antes do Ecriad, é que esses códigos não garantiam direitos desses menores. Quando promulgamos o Estatuto, a gente acreditou que estava vendo uma revolução nessa área”, argumentou.

Para Hebe, “tão assustador quanto verificar que escola recusa o adolescente, e que médico recusa atendimento a esse adolescente, é verificar que alguns colegas psicólogos não veem problemas éticos no decorrer da medida”

Perspectiva jurídica
A segunda mesa redonda fez o diálogo sobre a perspectiva jurídica. Além do juiz Vladson Couto Bittencourt, a promotora e secretária-geral da Procuradoria Geral da Justiça no Espírito Santo, Luciana Andrade, também expôs sobre sua atuação na área.

Para ela, deve-se acabar determinados discursos que acontecem no meio.

“É triste ouvir como promotor o que já ouvi – ‘olha é muito fácil ficar lá no gabinete’. De fato, ficamos mais no gabinete, mas a presença do Ministério Público se tornou mais constante. Talvez ainda não o ideal”, frisou.

Segundo Luciana, também é importante acabar com os estereótipos. “Precisamos nos despir desses paradigmas (de que o promotor só está ali para prender ou ficar no gabinete) para visualizar um Sistema Prisional e Socioeducativo melhor”, apontou a promotora.

No debate, conduzido pela conselheira do CRP-16, Danielle Merlo, os trabalhadores e trabalhadoras presentes ao encontro puderam expor suas dúvidas e questionamentos acerca das palestras, enriquecendo o evento.

Abertura

Presidente do CRP-16, Adriana Salezze, abre os trabalhos do encontro

Presidente do CRP-16, Adriana Salezze, abre os trabalhos do encontro

A mesa de abertura do encontro contou com a presença da presidente do CRP-16, Adriana Salezze; do secretário de Justiça do Espírito Santo, Sérgio Alves Pereira; do diretor-presidente do Instituto Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), Lindomar José Gomes; e do secretário municipal de Cidadania e Direitos Humanos, Marcelo Nolasco.

“O objetivo do Crepop é fortalecer o compromisso social da Psicologia dentro das políticas públicas de uma forma cada vez mais ética. E que essa seja uma oportunidade de aproximação entre CRP-16, Iases e Sejus. E que sejamos multiplicadores da nossa luta diária pelos direitos humanos”, disse a presidente do Conselho, em seu discurso que abriu os trabalhos do evento.

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