Movimentos sociais se ampliam e fortalecem a luta antimanicomial
Militância reforça ainda a necessidade das ações diárias em favor da Raps. E mostra preocupação com as diretrizes políticas nacional e estadual
No Dia Nacional da Luta Antimanicomial – 18 de maio, psicólogas militantes da causa reafirmam a importância dos movimentos sociais e das/os profissionais que lutam em favor do fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial e contra a lógica hospitalocêntrica nos serviços de saúde mental. Movimentos esses que estão crescendo, mesmo diante das incertezas e das ambiguidades políticas que rondam a questão.
“O cenário (político) nacional é bastante preocupante. Aqui no Estado, há ações ambíguas (por parte da gestão pública). Mas o nosso campo é fazer a resistência, a luta para deixarmos aberto essa caminho e esse modo de cuidar. O movimento tem se ampliado (entre os municípios capixabas) e é importante pois estamos mantendo a luta com força e potência”, afirma a psicóloga e militante da luta antimanicomial, Andréa Romanholi.
Na mesma linha, a psicóloga e representante do Núcleo Capixaba da Luta Antimanicomial, Camila Mariani lembra que o engajamento não se restringe à data e nem apenas ao movimento.
“A luta não é só hoje e não é só do movimento. São ações e atitudes diárias, nas quais precisamos afirmar a vida e as liberdades. Essa luta é cotidiana”, afirma.
Atividades
O Núcleo Capixaba da Luta Antimanicomial promoveu um ato cultural na Praça Costa Pereira, nesta quarta-feira, 18, onde foram oferecidos diversos serviços de saúde mental, entre outras atividades.
Há ainda, até o dia 31 de maio, a exposição “Ampliando a Arte de Viver”, que conta com obras de arte produzidas por usuários da rede de saúde mental. A exposição pode ser conferida na Galeria Francisco Schwarz, no térreo da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales).
Cenário político após impeachment
O movimento de ocupação “Fora Valencius”, que recebeu apoio do CRP-16, mostrou sua força. Por mais de 120 dias, o movimento ocupou o Ministério da Saúde, em Brasília, exigindo a saída do coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas daquela pasta, Valencius Wurch Duarte Filho.
Em 06 de maio foi publicada a exoneração de Valencius do cargo. Porém, dias depois, o Senado aprovou a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma. Com isso, o presidente interino de Michel Temer alterou toda equipe ministerial do governo. E agora, o momento é de atenção e preocupação sobre o que pode acontecer com política de saúde mental do Ministério da Saúde.
“É muito preocupante, estamos esperando o que vai acontecer. Mas não esperamos coisas boas. Por isso precisamos continuar na luta atentas/os ao que vai ser feito, se verbas serão cortadas. Não podemos deixar tantas conquistas se perderem. Até porque ainda há tanto o que se fazer”, argumenta Camila.
Já Andréa via um viés conservador no próprio governo Dilma.
“Estava mais devagar e difícil (o avanço da pauta da saúde mental no governo da presidenta) por conta dos interesses em comunidades terapêuticas e do discurso conservador usando o mote de combate às drogas. Mas no cenário agora a tendência é piorar muito. De se voltar para a questão manicomial, humanizada de forma rasa”, expõe a psicóloga.
Nesse sentido, Camila e Andréa destacam a importância de a militância antimanicomial seguir firme e forte para evitar o retrocesso e garantir novos direitos.
Ambiguidade no Espírito Santo
Para a psicóloga Andréa Romanholi, a situação da saúde mental no Espírito Santo apresenta certa ambiguidade.
“O Adauto (Botelho, atual Hospital Estadual de Atenção Clínica – Heac) passou a ser clínico e abriram-se residências terapêuticas, mas isso aconteceu sem se considerar a dimensão do serviço, e o hospital clínica é fechado (pois recebe encaminhamentos). E temos a Clínica Santa Isabel que está fechando, mas ela que deu as cartas de como se fechar. E isso é ambíguo”, analisa.
Para a integrante do Núcleo Capixaba da Luta Antimanicomial, psicóloga Camila Mariani até tem havido o diálogo, mas…
“Aqui no Estado, os municípios, secretarias de saúde estão tentando conversar para fortalecer a Raps. Tem havido o diálogo, mas é preciso de vontade política”, pontua.
No entanto, ela aponta uma situação em que a militância vai apoiar a ação do poder público.
“O grande número de internações compulsórias tem demandado muito dinheiro do governo estadual. E isso fez com que a gestão pensasse na diminuição desses gastos, e uma das formas para isso seria fortalecer a Raps. E se isso for feito, estamos juntos”, revela.