CRP-16/ES participa de debate sobre o sofrimento psíquico de mães e familiares de vítimas de violência do estado e apoia reinvindicações às autoridades
Violência de estado produz sofrimentos variados e é necessária a criação de estratégias dentro da Psicologia que rompam com práticas silenciadoras e cúmplices de sua permanência, sobretudo, nas camadas mais vulneráveis da sociedade
O CRP-16/ES participou entre os dias 17 e 22 de maio do “VI Encontro Nacional da Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado, por um mundo sem Violência!”, realizado em Vitória-ES. Foram diversos dias de atividades e debates com participantes de todo o Brasil que resultaram em reivindicações concretas levadas às autoridades e acúmulo de experiências que contribuem para a consolidação da atuação dos movimentos sociais e das instituições presentes.
A conselheira do CRP-16/ES Júlia Carvalho e o psicólogo e integrante da Comissão de Direitos Humanos do CRP-16/ES Fernando Schubert participaram do evento em diversos momentos, entre eles a roda de conversa “Implicações psíquicas às pessoas afetadas pelas violências de estado”. Foi realizada uma conversa com as mães e familiares de vítimas da qual também participaram as diretoras do CRP-06/MG, Talita Fabiano de Carvalho (presidenta), Maria da Glória Calado (vice-presidenta), Marta Eliane de Lima (secretária), e Fabiana Macena Luiz (conselheira suplente); além da presidenta do CRP-04/MG, Suellen Ananda Fraga.
Júlia Carvalho ressaltou que o debate sobre o sofrimento psíquico foi construtivo. “Na roda surgiram elementos que mostram o quanto a Psicologia em sua história de atuação serviu para disciplinar os corpos e muitas vezes ignorar o caráter social e politico de alguns sofrimentos psicológicos. É preciso repensar essas praticas a partir de um vínculo no território no qual seu trabalho está inserido. E pensar estratégias de cuidado que não reproduzam a lógica burguesa, individualizante, privatizante do sofrimento, mas uma prática territorializada, baseada numa clínica ampliada”.
Direitos Básicos
A conselheira do CRP-16/ES lembra que a violência de estado é constitutiva do cenário brasileiro e se distribui de variadas formas com diferentes graus de incidência na perda de direitos básicos, ou na dificuldade para acessá-los para grande parte da população.
“A Psicologia, em seus diversos campos de atuação, precisa atentar-se para o quanto a violência de estado atravessa suas práticas no cotidiano dos serviços de saúde, assistência social, consultório particular, entre outros, e não omitir-se e nem furtar-se a olhar para esse cenário para além do indivíduo posto em sua frente. A violência de estado produz sofrimentos variados e é necessária a criação de estratégias dentro da nossa ciência e profissão para romper com práticas silenciadoras e acumpliciadas à sua permanência, sobretudo, nas camadas mais vulneráveis da sociedade”, defendeu Júlia.
Defensoria
O psicólogo e integrante da Comissão de Direitos Humanos do CRP-16/ES Fernando Schubert representou o Conselho em uma reunião com a Defensoria Pública do Espírito Santo na sexta-feira, 19, com outras/os participantes do evento, sobre as pautas relacionadas à temática debatida no “VI Encontro Nacional da Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Estado, por um mundo sem Violência!”.
Ele ressaltou as articulações realizadas para ampliar o acesso da população à Defensoria Pública em casos relacionados à violência de estado, e pautas consolidadas dos Mecanismos Estaduais para Prevenção e Erradicação da Tortura (Mepet) dos estados, como a instalação de câmeras nas fardas dos policiais militares e a criação de serviços públicos específicos de atendimento psicossocial para mães e familiares das vítimas.
“A Psicologia precisa participar desse debate e contribuir com os movimentos sociais nas reivindicações feitas às autoridades porque a atuação dentro da nossa profissão no Brasil é influenciada pela violência de estado em diversos momentos. Para perceber isso, é preciso ter no horizonte um cenário para além do indivíduo, entendendo a produção de sofrimento neste contexto e atuando sem silenciar essa realidade, sem individualizar e responsabilizar o indivíduo pelo seu próprio sofrimento. Sem essa perspectiva, a/o profissional pode acabar contribuindo para que ele (o sofrimento) se perpetue, quando deveria ser o contrário”, explicou.
Fernando Schubert também participou de uma manifestação na sexta-feira, 19, com outras/os participantes do Encontro Nacional em um ato que terminou no Palácio Anchieta, sede do Governo do Estado do Espírito Santo.