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“Trânsito é interdisciplinar. E as soluções passam cada vez mais por ações de toda a sociedade”

Postado no dia 12 de novembro de 2015, às 17:44

No mês em que o Brasil sedia a 2ª Conferência Global sobre Segurança no Trânsito, CRP-16 destaca a ampla importância da Psicologia do Trânsito

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Evento será nos dias 18 e 19 de novembro, em Brasília

 

Nos dias 18 e 19 de novembro de 2015, Brasília será sede da 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito. O evento vai reunir cerca de 1,5 mil profissionais de todo o mundo, que vão discutir sobre os resultados e as próximas metas para a Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020).

O psicólogo e mestre em Psicologia com Ênfase em Comportamento de Risco no Trânsito, do Mato Grosso do Sul, Renan da Cunha, participará da Conferência.

O CRP-16 conversou com o professor, que revelou suas expectativas para o encontro global. E também falou sobre a importância da Psicologia do Trânsito e o crescimento dessa área de atuação profissional e sua contribuição para um trânsito melhor que permita mais mobilidade humana e redução de acidentes e de fatalidades no Brasil e no mundo.

O professor também fala sobre a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, coordenada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na qual governos de todo o planeta se comprometem a adotar medidas para prevenir acidentes de trânsito, que matam cerca de 1,3 milhão por ano no mundo.

“Trânsito é interdisciplinar. E as soluções passam cada vez mais por ações de toda a sociedade”, Renan da Cunha, mestre em Psicologia com Ênfase em Comportamento de Risco no Trânsito.

CRP-16 entrevista o professor e psicólogo Renan da Cunha

CRP-16: Renan, antes de falarmos sobre a Conferência Global e a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, fale um pouco sobre a Psicologia do Trânsito, que vai muito além do “exame psicotécnico”, já que avalia o comportamento humano e outros processos relacionados com a questão, destacando a importância dessa área.
Renan – 
A Psicologia do Trânsito nasce dessa forma, da avaliação psicológica, nascendo nos primórdios dos anos 1900, com motoristas de trens e de bondes, aliada à seleção de profissionais para trabalhar na área. Até hoje as pessoas confundem e reduzem a Psicologia do Trânsito à avaliação de condutores.

Mas temos um campo de expansão para o trânsito. Uma é através da fiscalização, da multa, para mudar o comportamento. E o outro é da educação para o trânsito. E ( há espaço para inserção da Psicologia) tanto no ambiente governamental, quanto no não governamental, com pessoas que trabalham com outras formas de transporte, onde os psicólogos podem ser inseridos. Na segurança de trânsito, com empresas motoristas que transportam passageiros, produtos perigosos.  No acompanhamento, na mensuração de stress de ansiedade.

O campo da pesquisa vem crescendo muito nos últimos anos. Tínhamos muito pouco inscritos (em pesquisa) até 10, 15 anos atrás. E do meio dos 1990, começamos a ter mais pesquisas para mensuração de comportamentos de risco, de uso de álcool, condutores idosos, pedestres, jovens.

E a Psicologia vai além. Qual é a razão pela qual as pessoas não utilizam o transporte coletivo? Alguém é menos valorizado por não ter um automóvel? Já que a posse do automóvel confere um status social. Então a Psicologia do Trânsito tem passado por tudo isso.

Os psicólogos estão conseguindo angariar campos de atuação, inclusive, em concurso para gestores de trânsito. Temos a colaborar no sentido da mudança de comportamento. Pois nós dialogamos com a Engenheira, com a Arquitetura, com a Medicina e com várias áreas.

C – Já que você citou, a Engenharia e a Arquitetura, que são áreas, que no contexto do trânsito trabalham o conceito da mobilidade urbana. Já a Psicologia do Trânsito trabalha o da mobilidade humana. Qual é a diferença?
R – Falam nisso (sobre mobilidade urbana) pois são centrados na cidade, mas tem profissionais que trabalham fora do ambiente urbano, dos grandes conglomerados. E trabalham todo o tipo de mobilidade, em ambiente rural, migrações etc, não apenas no urbano e rodoviário.

Reinier Rozestraten dizia o seguinte: a Psicologia do Trânsito diz respeito ao trânsito não só de rodoviários, mas de toda a significação, como a questão do automóvel visto como status de sucesso. E isso reflete no comportamento das pessoas, que começa logo na hora da compra. E perpassa por situações como o desinteresse por itens de segurança, por exemplo. Pesquisas mostram que entre os cinco itens mais importantes (na hora de comprar um carro), a segurança está em terceiro lugar para as mulheres. Entre os homens isso não aparece.

E a Psicologia do Trânsito pode ser abordada pela Psicologia Social, e também na cultura moderna contemporânea da concepção do veículo pela sociedade atual. Como se transforma o comportamento no trânsito dialogando com a fisiologia humana, com o Direito – blitz, sequelas com acidentes, cuidadores (da área da Saúde). Tem um grande espectro de atuação. Com muita interface. Ela não é final. Ela dialoga como uma série de outras áreas.

C – Fale sobre a 2ª Conferência Global e suas expectativas enquanto profissional da Psicologia que estará presente no evento.
R – A 2ª Conferência Global de Alto Nível em Segurança no Trânsito dá sequência à primeira, realizada, em 2009 na Rússia. E ela acontece na Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020). E nós estamos vivendo esse momento especial (a Década), onde a OMS, em parceira com a Organização Pan-Americana de Saúde, com as Nações Unidas, reúnem esforços para redução de acidentes no trânsito.

E vamos ter a segunda conferência, aqui no Brasil que está entre os cinco países que mais têm mortes no trânsito. A conferência vai trazer diversos países para sabermos quais foram os resultados conseguidos (nos primeiros anos da Década) pelos países envolvidos. E traçar novas metas, novos rumos e o que vai ser planejado em todas as áreas: na saúde, engenheira, segurança viárias.

Particularmente, vejo que vai ser interessante compartilhar nossas experiências e conhecimento com países da América Latina, e europeus, como Portugal e Espanha, para avaliar a mudança no comportamento.

C – Haverá muitas/os psicólogas/os na conferência?
R Tenho o conhecimento de que serão 400 brasileiros e outros 1.100 estrangeiros. Mas são poucos psicólogos, engenheiros, advogados, pedagogos. A maioria (dos participantes) é de funcionários governamentais de diversos países.

C – Estamos na Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020), campanha mundial da OMS, para cobrar comprometimento dos governos de todo o mundo em favor da prevenção, da redução dos acidentes dos trânsitos. Houve alguma mudança, no País, desde o lançamento da campanha em maio de 2011?
R – O que temos visto é um investimento maior do Ministério da Saúde, que é onde acaba estourando as consequências dos acidentes de trânsito. Mas o grande marco desta Década é tentar reduzir em 50% o número de mortes até 2020.

A expectativa é de que (o número de acidentes) 2014 seja próximo de 40 mil, de 2013 ficou próximo de 43 mil.

Aqui em Campo Grande (MS) o Vida no Trânsito (projeto em parceria do Ministério da Saúde com a OMS no âmbito da Década) tem dado resultado com queda dos números (de acidentes fatais), em 2013 foram 116, 2014, 110, e este ano está em menos de 100. E isso tem se refletido em outros lugares onde o programa (Vida no Trânsito) tem sido feito.

Todas as capitais (que adotaram o projeto Vida no Trânsito) criaram comitês municipais intergestores de trânsito, integrando secretarias municipais de saúde, para que se tenha não só o monitoramento das estáticas, mas também para que se estude as causas e para tentar atingir problemas específicos de cada região.

C – Além das metas traçadas pela Década, quais são os outros caminhos para o trânsito?
R – Existem vários caminhos para o trânsito, que passam pela engenheira, fiscalização, educação. Não basta apensar pensar que para mudar o comportamento tem que se pegar no bolso do cidadão. Não é só isso. Todo o tipo de deslocamento, a falsa sensação de segurança, de quem anda no banco de trás e não coloca o cinto, mas há casos de acidentes com óbitos que poderiam ser evitados se a pessoa tivesse com cinto no banco de trás. É preciso discutir isso cada vez mais na sociedade.

A proposta do trânsito não é só para o trânsito. É para saúde, para economia e para sociedade em geral. É preciso fazer uma discussão qualificada. E não apenas (como é no caso da imprensa) noticiar o trânsito pelo fatalismo. Mas precisamos começar a discutir como se poderia ter sido evitado. Onde falhou? E apurar se houve falha de engenheira. O que poderia ser feito para deixar o comportamento? Temos que pensar o trânsito de forma interdisciplinar. E as soluções passam cada vez mais por ações de toda a sociedade.

C – E o comportamento individual?
R – Quando você mudar, o trânsito muda. É preciso levar isso para esfera do comportamento pessoal. Não existe um trânsito dissociado. É o conjunto do que cada um de nós faz.

C – Muitas campanhas publicitárias sobre o trânsito são muito impactantes. Este é o melhor caminho para mudar o comportamento do indivíduo?
R –
Nas discussões que temos feitos existe uma corrente de psicólogos que não vai muito nessa linha. Por entender que tem como se fazer campanha sem ser fatalistas desse jeito. A violência já está instalada, já está estampada nos jornais. O foco poderia ser pela saúde, pela educação.

C – Segundo o Detran-ES, de janeiro a setembro de 2015, 1.831 motoristas ficaram sem autorização para dirigir, fazendo com que o número de CNHs cassadas crescesse 70%. Os motivos vão desde o aumento da conclusão de processos e do maior rigor da fiscalização. Mas as principais multas não são relacionadas à embriaguez (blitz da Lei Seca). E sim ao excesso de velocidade, dirigir falando ao celular, avanço de semáforo e ultrapassagem na contramão. Qual sua avaliação acerca desses dados?
Excesso de velocidade e embriaguez são dois problemas. Mas agora além do falar tem o teclar ao celular enquanto se está dirigindo, que também tira a atenção. Quanto mais rigor tiver, quando (o motorista) souber que ele não respeitou vai gerar malefício, vai gerar a suspensão da carteira, e que ele vai precisar pegar carona, pegar transporte público, o comportamento começa a mudar. É preciso entender que a CNH nada mais é que uma concessão. A pessoa assina um contrato com o Estado dizendo que vai cumprir o que está no Código Brasileiro de Trânsito. E quando as pessoas veem os casos sendo punidos, a sensação de impunidade começa a mudar com a responsabilização das pessoas em que estão desacordo com o trânsito. ©

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