Suicídio é tema de ações e debates permanentes no CRP-16
Apesar de ganhar ênfase no chamado “Setembro Amarelo”, pauta é debatida durante todo o ano pelo Conselho em reuniões da Comissão de Saúde
O debate em torno do suicídio e das implicações da Psicologia na questão tem sido permanente no CRP-16 e não está restrito ao chamado “Setembro Amarelo”, quando a pauta tem mais visibilidade e ocorre uma concentração de eventos que abordam a temática e promovem intensas discussões com a sociedade. As ações do Conselho estão ancoradas numa visão de compromisso ético-político da profissão.
O tema tem sido debatido nas reuniões da Comissão de Saúde com a participação do Grupo de Trabalho de Prevenção ao Suicídio, que este ano organizou o “V Seminário de Prevenção do Suicídio no Espírito Santo” com o tema “Depressão: Promoção e Prevenção em Saúde Mental”, aberto a toda a sociedade capixaba.
Estão previstas para 2018 novas atividades que darão continuidade às ações que já foram iniciadas, como produção de material impresso sobre o tema, mesa redonda em seminário organizado pelo próprio CRP-16 e a interiorização das ações.
A conselheira do CRP-16 Keli Lopes Santos lembra que o Brasil passa por tempos de precarização das políticas públicas que impactam as ações de prevenção ao suicídio. “Apesar da pessoa em crise suicida ter prioridade no atendimento em saúde mental, observamos que as equipes em geral estão desfalcadas e sobrecarregadas. Isso prejudica as ações e promove o adoecimento do servidor público. É preciso que esta pauta seja incluída na agenda dos governantes. Devemos considerar, entretanto, que a questão do suicídio também está presente nos consultórios privados e merece cuidado”.
Além disso, a importância do debate permanente também foi ressaltada pela Conselheira. “O Setembro Amarelo é uma campanha importante para conscientizar a população a respeito do tema do suicídio. Nesse sentido, ele tem bastante valor. Entretanto, é importante lembrarmos que a conscientização se torna mais eficaz quando se relaciona à vida cotidiana das pessoas, aspecto que consideramos crucial em temas delicados como o suicídio.”
Interdisciplinaridade
A atuação interdisciplinar é muito importante quando ocorre uma crise suicida. É necessário articular uma rede de cuidados em torno da pessoa em crise. Vários serviços podem ser acionados dependendo da situação, como: emergência psiquiátrica, SAMU, Centro de Atenção Psicossocial, Unidade Básica de Saúde. O suporte familiar e comunitário também é fundamental. O importante é corresponsabilizar os diferentes pontos de cuidado. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) produziu uma publicação chamada “Suicídio e os desafios para a Psicologia” (clique aqui e acesse), que pode servir como referência para a atuação. Para o profissional da área, manter-se atualizado e possuir uma postura de empatia é fundamental.
Diálogo
Com o objetivo de ampliar o debate e levá-lo para as pessoas comuns o Conselho promove o diálogo com atores da sociedade civil organizada e do poder público. É o caso do Centro de Valorização da Vida (CVV), um serviço de apoio emocional e de escuta. O voluntário e porta-voz do CVV no Espírito Santo, Andre Luiz Ferreira, explica que o serviço é pontual, não é terapêutico e não se dispõe a ocupar o atendimento profissional.
“Propomos apenas que em um momento de sofrimento em que uma pessoa precise ser escutada ela procure o CVV. Já atuamos há 55 anos no Brasil e podemos ser acionados pelo telefone 141 ou pelo site ccv.org.br. Temos trabalhando conosco voluntários das mais diversas formações que passam por seleção, treinamento de quatro meses e estágio antes de desenvolver o trabalho. Tudo é feito resguardando total sigilo”, disse.
De acordo com Ferreira, a procura pelo serviço tem se intensificado e o volume de ligações está aumentando com plantões em que todos os atendentes ficam ocupados simultaneamente. Parte do treinamento dos voluntários os capacita para lidar com casos de pessoas que estão convictas a cometer o suicídio tendo em mente que o outro pode ser o que ele quiser e que é preciso escutar, independente do que esteja sendo dito, pois a demanda é definida por quem aciona o serviço.
Terceira Ponte
Suicídios com grande visibilidade mobilizam mais a sociedade. É o caso do que ocorre na Terceira Ponte, que liga a ilha de Vitória a Vila Velha. O conselheiro do CRP-16 Flávio Mendes explica que o tamanho da visibilidade dada aos suicídios ocorridos na via não corresponde à quantidade global das ocorrências que ocorrem em outros locais.
“Por isso, é necessário debater esta questão como um problema de saúde pública e um problema social, e não como uma questão puramente individual ou pessoal. É preciso, além de restringir acesso aos meios de suicídio como agrotóxicos, medicamentos e locais elevados, entender as causas do problema. Já existem pesquisas que apontam que em países em desenvolvimento o índice de suicídio é maior. Podemos, portanto, supor que a desigualdade social e a pobreza são fatores que contribuem para o aumento das taxas de suicídio, embora não sejam os únicos”, explicou.