NOTA PÚBLICA SOBRE O SUICÍDIO
Documento é assinado pelo CRP-16 e outras entidades. Confira!
As instituições abaixo relacionadas vêm a público colaborar com a desmistificação do tema suicídio, ainda envolto em mistério, tabu e preconceito. O que contribui para uma grande falta de seriedade e adequação em lidar com o assunto. O comportamento suicida é frequentemente cercado por um véu de silêncio, dificultando a comunicação direta, impossibilitando a ajuda social e/ou profissional na prevenção e na recuperação de seus impasses, contribuindo para reforçar o enigma em torno do tema.
Suicídio é um ato complexo não sendo resultante de um evento ou fator único, sendo, portanto, impossível atribuir uma causa ou um motivo específico para a sua ocorrência. Envolve diversos fatores, entre eles, a presença de sofrimento psicológico intenso, o que torna a detecção precoce do comportamento suicida, bem como, o seu tratamento adequado, grandes aliados na prevenção.
As tentativas de suicídio são praticadas por pessoas que estão sob tensão, como expressão aguda de intensa dor emocional, que pode fazer com que o indivíduo acredite não ser capaz de suportá-la e de encontrar alternativas viáveis, julgando-a interminável. Possível busca de um alívio imediato, como forma de interromper um sofrimento atroz. De acordo com o senso comum, acredita-se que: “quem fala em se matar só quer chamar a atenção”; “quem quer se matar não avisa”; “quando a pessoa melhora, ou sobrevive após uma tentativa, está fora de risco”, “se conversarmos sobre suicídio estaremos incentivando uma pessoa a acabar com a própria vida”; “suicídio acontece apenas com um determinado tipo de pessoa”; “crianças e adolescentes não tentam suicídio”. Tais ideias, longe de explicarem adequadamente o suicídio ou o comportamento/intenção suicida, refletem a superficialidade do entendimento geral de nossa sociedade a respeito de questão tão complexa.
O histórico de tentativas anteriores de suicídio e a presença de transtornos psiquiátricos são os principais fatores de risco. Outros fatores podem contribuir para elevar o risco ou indicar risco aumentado, como a presença de doença física crônica, limitante ou dolorosa ou de curso fatal, o uso nocivo de álcool e outras drogas lícitas ou ilícitas, problemas interpessoais, história familiar de suicídio e situações estressoras.
Dentre estas, destacam-se perdas recentes significativas, como morte de entes queridos, divórcio, perda de emprego ou outras. A pessoa pode ter fatores de risco e não ter intenção suicida. O que faz diferença entre a decisão de vida ou de morte não é só a presença de fatores de risco, mas também a presença de fatores protetores, como suporte familiar e social, características de personalidade, acesso a serviços de ajuda, que podem fortalecer as estratégias de enfrentamento.
O que NÃO fazer: ignorar a situação; fazer o problema parecer banal ou cômico; ficar chocado, envergonhado e/ou em pânico; desafiar a pessoa a continuar em frente; deixar a pessoa sozinha.
O que FAZER: ouvir calmamente e com seriedade averiguando a existência de planos ou a ocorrência de tentativas; pedir ajuda a um profissional capacitado da área da saúde; remover os meios possíveis com os quais a pessoa possa se matar; identificar outras formas de dar apoio emocional e, em caso de emergência, levar a um hospital, pois a segurança deve ser resguardada acima de tudo. É preciso um contexto aberto e interessado ao acolhimento da pessoa em crise.
A propagação de informações relacionadas à ocorrência de um suicídio deve ser conduzida com cuidado e responsabilidade, inclusive considerando o respeito devido aos familiares e sua perda, devendo a mídia seguir padrões sugeridos pela Associação Brasileira de Psiquiatria e pela Organização Mundial de Saúde, de maneira a que se estabeleça uma parceria fundamental para a prevenção, já que é sabido que a população de risco pode copiar comportamentos suicidas divulgados pela imprensa. Observa-se ainda, que existe a necessidade de sensibilização quanto ao tema nos setores público e privado de saúde, bem como, a atualização das políticas de saúde mental com relação à prevenção do suicídio para atender à demanda que vem sendo negligenciada.
Caso você identifique algum sinal de risco, procure um profissional de saúde o mais rapidamente possível. Sua atitude pode salvar uma vida.
Assinam a presente Nota Pública:
-Conselho Regional de Psicologia da 16ª Região- ES (CRP16/ES);
-Associação de Terapia Familiar do Espírito Santo (ATEFES);
-Apoio a Perdas Irreparáveis (API);
-Núcleo de Estudos em Ciência e Espiritualidade da Universidade Federal do Espírito Santo (NECE/SAUESP/UFES);
-Centro de Estudos e Pesquisa em Epidemiologia Psiquiátrica da Universidade Federal do Espírito Santo (CEPEP/UFES);
-Centro de Estudos de Psiquiatria do Espírito Santo (CEPES);
– Associação Médica Espírita do Espírito Santo (AMEES);
-Asociacíon de Suicidologia de Latinoamérica y el Caribe (ASULAC).