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Carta Aberta Contra o Assédio Institucional

Postado no dia 16 de setembro de 2015, às 15:41

Confira a íntegra do texto, apresentado pelo CRP-16 na reunião da Apaf, em Brasília. Documento é assinado  por 17 Regionais 

Nos dias 12 e 13 de setembro aconteceu, em Brasília/DF, a Assembleia Extraordinária de Políticas de Administração e Finanças do Sistema Conselhos de Psicologia (Apaf), que reúne representantes dos Conselhos Regionais de todo Brasil, além de representantes do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

O CRP-16 atento ao compromisso assumido em prol da superação de todas as formas de opressão de gênero, em favor da luta do movimento feminista e consciente de que formamos uma profissão composta por mais de 90% de mulheres, elaborou, assinou e divulga à categoria a Carta Aberta Contra o Assédio Institucional, apresentada no dia 13 de setembro, na Apaf.

O fato ocorreu no dia 12 de setembro conforme pode ser conferido no vídeo do primeiro dia da Apaf (até aproximadamente 01h14min.).

Abaixo segue a íntegra da carta lida pela conselheira do CRP-16 Andrea dos Santos Nascimento, que pode ser conferida no vídeo neste link.

Carta Aberta Contra o Assédio Institucional
A delegação do CRP 16 não poderia se omitir. Somos o Estado que lidera as estatísticas nacionais de casos de violência contra a mulher e isso é vergonhoso para nós. Para quem acha chato, engraçado ou risível, nós não achamos.

“Pode, querida. Você pode tudo. Quase tudo comigo, você sabe.” A frase acima pode parecer inocente, carinhosa, conversa entre amigos ou algo mais.

Mas não é bem assim. Foi proferida por um homem, em uma reunião de trabalho, para uma colega com quem está longe de ter intimidade. Surgiu durante uma discussão, em que mais havia discordância que consenso.

Frases como essa são ouvidas diariamente por mulheres no contexto do trabalho, e em geral servem para neutralizar argumentos, para colocá-las na tradicional condição de terem de seduzir, agradar aos homens para obter o que desejam. Em geral não surgem em discussões entre homens.

A perversidade desse tipo de abordagem está exatamente na aparente suavidade, na sua ambiguidade. “Você pode quase tudo comigo”. Quase tudo o quê? O que isso significa em uma reunião de trabalho?

Frases que inferiorizam mulheres, que nos trazem constrangimentos, piadinhas que nos ridicularizam, diminuem a importância do que fazemos e dizemos, fazem parte do cotidiano das mulheres no lar, no lazer, na escola, no trabalho. São filhas do patriarcalismo, da cultura do machismo que alimentamos em nossa sociedade.

Lutamos, conquistamos lugares no mundo do trabalho, mantemos nossas famílias, estamos em espaços de representação – mas continuamos ouvindo piadinhas, sendo vítimas de violência, recebendo salários inferiores aos dos homens; enfim, seguimos vivendo em uma cultura que nos desvaloriza.

Esse episódio, por si, já seria constrangedor e emblemático, mas uma condição coloca-nos ainda mais preocupadas: foram proferidas pelo vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, psicólogo Rogério Oliveira, em uma reunião de trabalho com as/os presidentes dos Conselhos de Psicologia de todos os estados brasileiros – o vídeo está disponível neste link.

Uma categoria composta por aproximadamente 80% de mulheres. E seu vice-presidente as trata de forma ambígua, de modo a minimizar a relevância do que dizem e a insinuar um papel para essas mulheres. E essa mulher, junto a outras mulheres e homens, lidera um CRP imenso, tal como é o CRP de SP. Merece o nosso total respeito.

Uma diretoria que anuncia lutar pelas condições de trabalho das psicólogas e dos psicólogos, mas cujo representante não respeita as condições mínimas de convivência entre seus pares, pula as barreiras do respeito e insinua “possibilidades”.

Essa é a situação que muitas psicólogas vivenciam cotidianamente nos seus locais de trabalho. O desrespeito machista que se expressa de muitas formas, com interditos e barreiras, com piadinhas, assédio, insinuações, “brincadeiras” – que constrangem, inferiorizam, ferem.

E vemos reproduzidas nas relações institucionais dentro da própria categoria.

Nós, mulheres psicólogas, não aceitamos esse tratamento, não aceitamos que, mesmo com frases suaves, coloquem-nos em lugar de submissão, enfraqueçam nossas palavras e ações.

Não nos sentimos representadas e questionamos a legitimidade de um homem que, de seu lugar de poder, desqualifica uma categoria que se compõe e se desenvolve graças ao trabalho de muitas mulheres.

A frase que inicia esse texto não é carinho, não é brincadeira entre amigos – é machismo, é violência.

Assinam essa carta com o CRP-16/ES:
CRP-01 – Distrito Federal
CRP-02 – Pernambuco
CRP-03 – Bahia
CRP-04 – Minas Gerais
CRP-05 – Rio de Janeiro
CRP-06 – São Paulo
CRP-07 – Rio Grande do Sul
CRP-08 – Paraná
CRP-10 – Pará/Amapá
CRP-12 – Santa Catarina
CRP-13 – Paraíba
CRP-14 – Mato Grosso do Sul
CRP-18 – Mato Grosso
CRP-17 – Rio Grande do Norte
CRP-19 – Sergipe
CRP-20 – Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia

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