Veja como foi o primeiro dia do Seminário Trabalho e Ética na Psicologia frente às demandas atuais da sociedade
Encontro do CRP-16 em lembrança ao Dia da Psicóloga e do Psicólogo acontece em 20 e 21 de agosto
#Psi56anos O Seminário Trabalho e Ética na Psicologia frente às demandas atuais da sociedade teve discussão sobre os impactos da conjuntura brasileira no trabalho da Psicologia e também sobre a avaliação psicológica. O Seminário acontece no auditório do Centro de Ciências Exatas, no campus da Ufes de Goiabeiras, em Vitória nesta segunda-feira, 20, e terça-feira, 21. O evento é a principal atividade do CRP-16 em lembrança ao Dia da Psicóloga e do Psicólogo (27 de agosto) e aos 56 anos da regulamentação da Psicologia no País.
Confira aqui como foi a segunda etapa do seminário, realizada no dia 21 de agosto.
Na parte da manhã, o primeiro debate teve o seguinte tema, “Impactos da conjuntura brasileira no trabalho da Psicologia: precarização e crise democrática”. A mesa teve como palestrantes: a representante da Associação Brasileira de Ensino em Psicologia (Abep), Ângela Soligo; a presidenta do CRP-16, Carolina Roseiro; e o presidente do Sindicato das Psicólogas e dos Psicólogos no Espírito Santo (Sindpsi-ES), Willian Fontes. A conselheira do CRP-16, Sabrina Ribeiro foi a mediadora.
As exposições teceram críticas à onda conservadora atual da política brasileira, os ataques aos direitos trabalhistas e a diversas conquistas sociais do povo, como a Reforma Trabalhista, chamada pelo presidente do Sindpsi-ES de “Deforma Trabalhista”. Nessa conjuntura, foi abordado ainda o crescimento da Psicologia brasileira, sobretudo em função do aumento dos cursos de graduação. Foi apontado a necessidade das/os psicólogas/os ocuparem outras áreas que demandam serviços da Psicologia, bem como um cuidado para que a profissão tenha um viés agregador em vez de excludente.
A representante da Abep apontou que a Psicologia deve ser transformadora indo ao encontro da empatia contra a lógica atual de indivíduos e conjuntos isolados.
“Precisamos pensar a Psicologia como ferramenta de reflexão e ação que nos levem para outro lugar que não este de conjuntos e indivíduos isolados que não são mais capazes de olhar para os outros. Precisamos da Psicologia que de fato esteja da transformação, da empatia, que assuma o seu papel nesta sociedade”, salientou.
A presidenta do CRP-16, Carolina Roseiro, lembrou que, quando ela se formou, no Estado a única faculdade de Psicologia era a da Universidade Federal. Hoje tem diversas faculdades particulares, e o número de psicólogas/os inscritas/os no CRP-16 já é de cerca de 5 mil. Esse crescimento precisa ser cuidado levando-se em conta os princípios ético e político da profissão.
“Não existe o descolamento da prática ético-político da categoria e as instituições formadoras. Existe um crescimento, uma expansão que precisa ser cuidada, para que não percamos na ética e nas condições de trabalho em nosso Estado”, analisou.
O presidente do Sindpsi-ES, Willian Fontes, falou sobre a importância de se envolver nos espaços de discussão política. E de a categoria ampliar a próprio perspectiva da atuação profissional.
“A gente (do sindicato) bate na porta das secretarias para falar do trabalho da psicóloga e do psicólogo. E nós temos mais de uma dezena de áreas, que vão além das mais conhecidas: saúde, educação, assistência social, e RH. Cadê os psicólogas/os na humanização do trânsito; nas políticas de emprego e de renda? Temos que ocupar esses espaços”, afirmou.
Avaliação psicológica
Função social, ética, direitos humanos e autonomia profissional foram os temas principais abordados na mesa “Avaliação psicológica: como garantir autonomia e compromisso social?”, realizada na parte da tarde desta segunda-feira, 20. Ela foi composta pela psicóloga Lidiane Cristine dos Reis Souza (CRP-16), que atua no SUAS da Secretaria Municipal de Assistência Social da Prefeitura Municipal de Vitória; pela psicóloga Karina Franco Moshage, que é conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Mato Grosso (CRP-18) e por Fabian Javier Marin Rueda, que é conselheiro do CFP. O debate foi mediado pela conselheira do CRP-16 Suzana Maria Gotardo Chambela.
A conselheira do CRP-18 destacou a autonomia profissional no processo de avaliação psicológica. Para ela, o psicólogo deve se empoderar na hora de fazer o seu trabalho, como no caso de concursos públicos, em que muitas vezes é solicitado o Teste Palográfico, mas que cabe ao profissional definir como será feita a avaliação.
“Nós somos o profissional. Quando é o médico ninguém questiona que instrumento ele vai usar. Enquanto a gente não se empoderar como profissional, a gente não vai ser valorizado. Você que é responsável pela a avaliação, você que é o profissional. Já passou da hora de nós entendermos nossas resoluções”, expôs Karina Franco.
Ela ainda explicou o que deve ser levado em conta na hora de fazer a avaliação, sendo o processo ético, a função social e qualidade técnico-científico os principais eixos do processo. “A forma que eu faço essa avaliação, ela tem que ser ética. Tanto para o requerente quanto para a pessoa avaliada”, argumentou.
O conselheiro do CFP também falou sobre o processo e destacou a Resolução nº 09/2018, que estabelece as diretrizes da Avaliação Psicológica. Fabian Javier ressaltou o processo de construção da normativa e dos avanços que ela proporciona na psicologia, como na garantia dos direitos humanos. “Há 15 anos, nós tínhamos uma resolução que falava só de teste, agora, nós temos uma resolução que trata dos direitos humanos”, frisou.
Ele ainda argumentou que a avaliação tem que reconhecer a realidade de cada pessoa na hora de ser feita. “A avaliação psicológica, foi elitista, como a psicologia. Mas a avaliação psicológica bem feita, tem que incluir, e entender cada realidade como sendo única. Eu tenho que entender a pessoa que eu tenho na frente. Só assim, eu posso dizer que a avaliação é ética e que respeita os direitos humanos”, apontou o Rueda.
A psicóloga Lidiane Cristine salientou a ética e o reconhecimento que os profissionais devem realizar na hora de produzir uma avaliação psicológica. “A gente não tem como fazer Psicologia sem um compromisso ético. É uma questão de posicionamento político. Qual a função social que a gente exerce? Como a gente está produzindo verdades e inverdades?”, indagou.
Ela ainda argumentou que a avaliação deve ser transversal e considerar a realidade de cada pessoa. “Dentro da avaliação psicológica, a gente não pode deixar de avaliar a realidade dessa pessoa. O recorte do sujeito, de que realidade ele vive e que processos de subjetivação fizeram ele chegar ali. A gente tem que ter muito cuidado, muita delicadeza na hora de tratar desse tema. É uma questão transversal, que passa por muitos processos para avaliação”, ressaltou Lidiane Cristine.
Mesa de abertura
Na mesa de abertura, a presidenta do Conselho, Carolina Roseiro destacou a importância de as psicólogas e os psicólogos se entenderam como classe trabalhadora. E falou sobre o porquê do tema do seminário.
“Ele foi pensado a partir das demandas da categoria que chegam ao Conselho por meio das ações das comissões e grupos de trabalho do CRP-16. E nosso trabalho é exercido a partir disso. Pensamos no que vinha chegando com mais ocorrência e necessidade de debate. Aí pensamos no tema do seminário e de cada uma das mesas. E a importância de pensarmos a categoria de trabalhadoras e trabalhadores. Como essas demandas atuais nos colocam a questão ética”, frisou.
A professora Ana Lúcia Heckert falou em nome colegiado de Psicologia da Ufes e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional (PPGPSI), que apoia o evento. “Dou as boas-vindas. E temos a maior honra de sediar o evento na universidade e desejamos que seja proveitoso todo o debate”.
O presidente do Sindpsi-ES, Willian Fontes, reforçou a fala da conselheira do CRP-16 sobre as psicólogas e os psicólogos se entenderem enquanto classe trabalhadora. E assinalou sobre a importância de se unir a outras categorias. “No sindicato, é possível fazer uma imersão na vivência com outras categorias, ter esse convívio com outras categorias é importante vivermos essa união com outras categorias para sentirmos o que é a luta em prol da sobrevivência e do conforto”, salientou.
Ausência. A presidenta do CRP-16, Carolina Roseiro, pediu desculpas pela ausência do conselheiro do Conselho Federal de Psicologia (CFP) Pedro Paulo de Bicalho para falar sobre o cenário que vivemos em nome da Psicologia brasileira.