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Aposentadoria e Previdência: uma reflexão sobre a dimensão que o trabalho ocupa na vida das pessoas

Postado no dia 22 de fevereiro de 2017, às 16:45

O ato de se aposentar pode se tornar uma oportunidade para se viver outras dimensões da vida que não sejam apenas o trabalho e a proposta de Reforma da Previdência prevê a retirada dessa possibilidade, submetendo trabalhadoras e trabalhadores a uma nova condição de adoecimento

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Na sociedade atual o trabalho, como atividade econômica produtiva, tornou-se o centro da vida das pessoas, exercendo o papel principal na identidade do indivíduo. Nesse contexto, a aposentadoria pode ser um momento em que as pessoas se depararam com a sensação de inutilidade, pois a identidade pessoal está estreitamente relacionada à dimensão produtiva, principalmente relacionada à acumulação material.

É o que explica a psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo (CRP-16) Marina Bernabé, mestranda em Psicologia Institucional da Ufes. “Um dos problemas da aposentadoria se relaciona com o conceito de improdutividade que a lógica de produção atual impõe. Esse posicionamento diante da vida desvaloriza as outras relações”.

A aposentadoria é um momento importante para se viver outras dimensões da vida que não sejam apenas o trabalho. A preparação para isso é importante e recomenda-se que as instituições, públicas e privadas, iniciem esse processo com seus funcionários pelo menos dois anos antes deles se aposentarem.

“A aposentadoria força as pessoas a encontrarem outras formas de viver e a pensar em diferentes possibilidades de organização do tempo, da rotina e até mesmo das relações sociais, fortemente marcadas pelo trabalho. Isso é importante para a própria pessoa e também para a sua família. Quando se reduz o valor da vida ao aspecto produtivo no sentido de acumulação material, a aposentadoria pode se tornar um fator de desvalorização e de um sentimento de inutilidade, contribuindo para quadros de depressão, por exemplo.”, explicou Marina Bernabé.

A lógica que impera na sociedade atual, em que o trabalho tornou-se o centro das relações, deve ser repensada no decorrer das vidas, o que acarretará em outra relação com a aposentadoria. Para isso o planejamento e o conhecimento sobre o quanto o trabalho ocupa no tempo de vida de cada indivíduo é essencial. A/O psicóloga/o é um profissional indispensável na adaptação a essa nova realidade em que o trabalho é uma das dimensões da vida.

Reforma nociva

São diversas as propostas que prejudicam as trabalhadoras e os trabalhadores do Brasil contidas na Reforma da Previdência promovida pelo Governo Federal, como a redução dos valores dos benefícios. Entretanto, a imposição da idade mínima de 65 anos, um dos pontos centrais segundo o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é um dos elementos mais preocupantes. Ele ignora as profundas desigualdades sociais e regionais que regem o país.

Em 19 municípios brasileiros a expectativa de vida é de exatamente 65 anos, em outras 63 cidades, é de 66 anos. Em entrevista ao The Intercept Brasil, Isabel Marri, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), explica que “as expectativas de vida são menores em locais mais pobres. As áreas menos favorecidas têm condições de vida e de saúde muito abaixo das ricas, devido às desigualdades do país”.

Dados do IBGE apontam que um jovem alagoano que tem 20 anos em 2016 viverá aproximadamente 69 anos. O estado tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. É uma vida inteira de trabalho para desfrutar de quatro anos de descanso.

“[65 anos] É uma idade alta considerando a realidade brasileira. Isso causa ou reforça a desigualdade”, disse a presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Jane Berwanger, também em entrevista ao The Intercept. Para ela, a fórmula ideal deve mesclar tempo de contribuição e idade.

Com o segundo menor IDH do Brasil, o Maranhão é outro estado com projeções desanimadoras. Por lá, os jovens de 20 anos também devem viver, em média, até os 69. “O problema é que o governo se baseia em uma realidade que não é a do total do país. Dois terços do volume das aposentadorias são de salário-mínimo, não são para milionários. E agora você faz essas pessoas trabalharem até o limite da capacidade. Um trabalhador braçal, que mora em um lugar com estrutura de saúde menor, dificilmente vai conseguir chegar aos 65 trabalhando”, afirma Berwanger.

A conselheira do CRP-16 Marina Bernabé alerta para o dano que esse aumento da idade pode causar à saúde e qualidade de vida das pessoas. “É preciso ressignificar a vida. A acumulação material não deve ser o objetivo da existência. Essa lógica reduz a humanidade de quem deixa de trabalhar. Com a Reforma da Previdência as pessoas podem se ver obrigadas a trabalhar e a se submeter a uma nova condição de adoecimento em vez de priorizar a qualidade de vida. Qualidade de vida não é sinônimo de qualidade material, assim como saúde física não é sinônimo de ausência de doença, mas a capacidade de intervenção sobre a limitação que você possui”.

Com informações de The Intercept Brasil

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