NOTA DE REPÚDIO
IV Plenário do CRP-16 repudia postagem sobre combate ao crack no blog do jornalista Reinaldo Azevedo, no site da Revista Veja. Confira!
O Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo vem a público repudiar o conteúdo da postagem “Vem confusão no combate ao crack”, divulgada pelo jornalista Reinaldo Azevedo em seu blog, na edição online da revista Veja, em janeiro deste ano.
Em seu texto, o jornalista desconsidera a história de lutas empreendidas pelo Movimento da Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial, em prol da garantia de práticas pautadas na humanização da atenção em saúde, ao ver como problema, por exemplo, a atual realidade brasileira de massiva redução de leitos psiquiátricos para dar lugar à ampliação e fomento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que se configura como instrumento do Estado para cumprir seu papel de defensor da saúde pública, de atenção integral e de cobertura universal.
No Brasil, o Movimento da Luta Antimanicomial, protagonizada primeiramente pelos trabalhadores da saúde mental e seguida pelo Movimento dos Familiares e Usuários, aconteceu principalmente no sentido de denunciar o tratamento desumano das instituições de caráter asilar e manicomial, iniciado na década de 70, sob influência da Reforma Psiquiátrica Italiana.
Esse período foi marcado pela emergência de diversos movimentos sociais que lutavam pela redemocratização do país e acesso aos serviços públicos.
Nessa perspectiva, o Movimento da Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial ocupou as ruas e trouxe para o cenário nacional um outro olhar para a loucura, para além da doença, da marginalidade, da violência e da reclusão. Problematiza e se posiciona, inclusive, contrário à concepção de normalidade e anormalidade no que se refere respectivamente à saúde e à doença.
Deste modo, concordamos com as bandeiras de luta do Movimento da Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial, dentre as quais a defesa por uma atenção à saúde mental pautada no cuidado, liberdade, respeito, autonomia. A partir da Luta Antimanicomial tornou-se possível a implementação da RAPS, uma vez que seus princípios fundamentais referem-se ao respeito, à autonomia, à dignidade, à inserção política nos meios familiares e sociais, o que parece ser desconsiderado pelo jornalista Reinaldo Azevedo.
É preciso lembrar também que as comunidades terapêuticas, do modo como estão organizadas, têm resgatado e reforçado a ideia de que a atenção em saúde mental deve ser realizada de acordo com o modelo hospitalocêntrico, asilar e de isolamento, o qual sabemos foi promotor de absurdas violações de direitos humanos ao longo da história.
Além disso, é preciso priorizar a oferta de serviços de saúde pública, o SUS, e, em especial, a atenção em saúde mental por meio do fortalecimento dos espaços e dos modos de trabalho já existentes, que valorizam a humanização, além de criar e fomentar novos modos de intervenção, por meio do fortalecimento e ampliação da RAPS.
Vitória/ES, 17 de abril de 2014.
IV PLENÁRIO DO CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DA 16ª REGIÃO – ES (CRP16/ES)