Muito além dos assentamentos
Consulta pública do CREPOP mostra que a questão da terra engloba muitas demandas que precisam da atenção das/os psicólogas/os
Questões essas que vão muito além da luta de movimentos sociais por assentamentos no âmbito da reforma agrária que demandam bastante a inserção da Psicologia nesse amplo e complexo campo de atuação.
Foi isso que se viu na consulta pública da versão preliminar da referência sobre questão da terra do CREPOP do CRP-16, realizada na sede do Conselho, em Vitória, no dia 14 de março de 2013.
A professora e doutora Mariana Bonomo foi a debatedora do evento defendendo a proposta de que as/os profissionais, independentemente da área da Psicologia, devem se inteirar sobre esse campo de atuação.
“Indígenas, quilombolas, imigrantes, ciganos, camponeses são um conjunto de povos diferentes que constituem a população rural, e as referências têm que ser voltadas para todos. E há nesses grupos espaço para atuação que não se restringe ao psicólogo social. Há inclusive espaço para intervenções do psicanalista, por exemplo”, argumentou Mariana.
Apesar disso, ela ressalta que a questão da terra está em construção enquanto área profissional.
“Precisamos ter o reconhecimento do rural como área de atuação. É preciso ter qualificação do profissional, ter o mínimo de informações para desenvolver esse trabalho que vai ser aperfeiçoado com a interface que ele está inserido”, revelou.
Crítica e orgulho
A professora Mariana Bonomo e outras profissionais que participaram do encontro criticaram o fato da referência do CREPOP sobre a questão da terra ter um foco relacionado aos assentamentos e à reforma agrária.
Mas, a debatedora sentiu orgulho por ver o Centro de Referências abordar a temática.
“Me emociona muito, fiquei orgulhosa da Psicologia tomar isso como questão para área. Fiz uma leitura bastante bonita (da versão preliminar) e depois vamos dissecar para ver de que maneira esse documento pode ser mais eficaz com a proposta de sensibilizar a área”, avaliou Mariana.
Caminho inverso. As críticas à versão preliminar da referência podem ter surgido em função da forma diferenciada que o CREPOP escolheu para elaborar o documento.
“A versão preliminar da referência sobre questão da terra teve um caminho inverso. Ela não passou pelos profissionais para eles criarem a versão preliminar. Veio diretamente de uma demanda social. Surgiu o assunto, fizeram seminários e veio uma referência proposta por especialistas. Não foi uma referência com propostas vindas dos profissionais, que produzem as versões preliminares das outras referências e depois debatem para chegar ao documento final”, explicou a técnica do CREPOP do CRP-16, Patrícia Littig.
Mais encontros
A psicóloga que atua no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Karla Fafá gostou do tema da questão da terra como consulta do CREPOP e o considerou útil para sua própria atuação.
“Gostei muito. Acho que poderia fazer de tempo em tempo, pois a discussão é muito saudável. A professora (Mariana) iniciou discussão e para o meu trabalho foi muito útil”, frisou Karla.
Vida na terra
“Tinha esse embate (o preconceito pelo fato dela ser do interior e cursar Psicologia). Isso acabou me provocando estudar na tentativa de dizer que existe gente no campo, de demonstrar a importância daquele modo de vida, que faz parte do processo de sociabilização”, revelou a doutora Mariana Bonomo.
Filha de pequenos agricultores, ela fez seu ensino básico (então ensinos fundamental e médio) na Escola Família Agrícola e na Escola Comunitária Rural. Ambas na zona rural de Anchieta, Sul do Estado, antes de entrar para o curso de Psicologia da Ufes, em 2000.
A tese de doutoramento de Mariana tem como título: Identidade social e representações sociais de rural e cidade em um contexto rural comunitário: campo de antinomia.
Ela pesquisa, principalmente, em grupos étnicos e comunidades rurais a partir da análise dos processos identitários e representacionais.