Direitos humanos é destaque nos 50 anos do Dia da Psicóloga e do Psicólogo
Conheça a história de Radar, o cachorro de estimação de uma das maiores vítimas de violação dos direitos humanos que o ES já viu
Proferida pela advogada Verônica Cunha Bezerra, a palestra “Direitos humanos: Para quê? E para quem?” destacou pontos que maculam a imagem do Espírito Santo, como o Caso Araceli. Mas também citou as importantes contribuições da Psicologia na área.
“Seria muito fácil responder se todos tivessem o mesmo propósito. Direitos humanos para quê? Para ser feliz, é básico. Para quem? Para todos”, afirmou Verônica.
Ela lembrou ainda que os direitos humanos estão em fase de afirmação, apesar de sua carta de princípios ser de 1948.
“Estamos há 64 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e há 24 anos da Constituição Federal da República do Brasil, e as histórias de violação continuam sendo vivenciadas em presídios, em delegacias, em hospitais, dentre outros. Trabalho escravo ainda é encontrado no interior do nosso Estado. Criminalização dos movimentos sociais. Muitos defensores e defensoras de direitos humanos ainda são apontados em processos no nosso Estado, e vocês estão nessa seara. Vocês são defensores de direitos humanos e a gente não pode se esquecer disso”, alertou a advogada.
Verônica citou seu dia-a-dia de trabalho para detalhar a importância da atuação junto às/aos profissionais da Psicologia.
“No meu cotidiano trabalho numa equipe interdisciplinar, e os embates com psicólogas(os) e assistentes sociais são assim, de hora em hora. Mas como é bom agregar os embates do que eu sou, como é edificante ser atravessada pelas falas e posicionamentos que me permitem reposicionar-me, agregando saber e assim potencializar a atuação. Enxergando as minhas potências, reconheço os meus limites”, salientou.
Ela ainda lembrou que não há como atuar sozinho em prol dos direitos humanos.
“E nessa toada, propor essa forma de trabalho para garantir e afirmar direitos é preciso também uma rede forte e disposta, pois como sempre falo: uma andorinha só não faz nem outra, quem dirá um verão. É importante que tenhamos uma rede de retaguarda, que são conselhos de classe; de direitos; fóruns de debates entre outros espaços coletivos que podem fazer ecoar um sussurro de dor”, analisou Verônica.
Radar
Para Verônica, os militantes dos direitos humanos devem ter um radar para lutar contra quaisquer violações que possam acontecer. E ela citou um fato bem triste da história do Espírito Santo para justificar o porquê desse radar.
É importante termos um radar para percebemos algumas coisas além do dito e do escrito. Assim como um cãozinho de uma menina, de 8 anos, que no dia 18 de maio de 1973, saiu de sua casa para ir à escola e não voltou mais.
Era uma sexta-feira. Naquele dia, a filha de um eletricista e de uma boliviana, radicada no país, foi espancada, torturada, drogada, violentada e morta. Teve partes da barriga, dos seios e da vagina dilacerados com mordidas em uma orgia regada a cocaína e a LSD.
Seu corpo foi queimado com ácido e permaneceu por mais de três anos na gaveta do Instituto Médico Legal de Vitória, até que uma investigação terminou com pelo menos 14 execuções, alguns indiciados e nenhum condenado.
O pai reconheceu a filha por uma marca de nascença, e a mãe disse que não era ela. O pai então levou o cachorro (batizado por Araceli com o nome de Radar) e o animal acertou em cheio a gaveta em que estava o corpo da menina.
Estou falando de Araceli Cabrera Crespo. Uma capixaba vítima de violação dos direitos humanos. Vamos ligar então o nosso radar, que no Espírito Santo tem que ficar acesso diuturnamente.