Falsa Abolição: a luta do povo negro continua
Neste 13 de maio completamos 132 anos da abolição da escravidão no Brasil. Contudo, embora seja um marco no século XIX, o CRP16/ES compreende que esta data não evidencia, nem reconhece toda luta da história negra. Pelo contrário, pois em diversos momentos visualizamos um apagamento da presença e importância da população negra em prol da exaltação de uma suposta benevolência do governo imperial. Uma imensa falsificação produzida pela história oficial, que foi e é ensinada nas salas de aula.
Assim, é importante destacar as revoltas de escravizadas e escravizados, os movimentos abolicionistas e todas as formas de resistência do povo afrodiaspórico no país. Passado mais de um século, temos um triste legado daquele período, que se evidencia através da permanência do racismo institucional, onde o preconceito e a discriminação imperam na relação institucional, seja nos cargos e salários, ou nas relações interpessoais, reverberando os moldes escravocratas.
Pesquisas mostram que negras e negros compõem os piores espaços nas estatísticas quanto à qualidade de vida: maiores taxas de desemprego, analfabetismo, piores salários e renda média; maior incidência de homicídio e composição da população carcerária, chegando a quase 2/3 da população prisional, conforme dados do IBGE e Infopen.
Os indicadores caracterizam os efeitos de uma abolição feita sem um projeto de inclusão da população negra na agenda social e econômica do país. Eles apontam consistentemente que negras e negros estão mais vulneráveis, principalmente quando se fala de saúde de modo abrangente, ou seja, não da perspectiva tradicional como ausência de doença, mas como um estado de bem-estar biopsicossocial. Tais constatações nos lançam no debate sobre os impactos da esfera econômica na saúde em diversos âmbitos, tais como: acessos a planos de saúde e medicamentos, proximidade a unidades de saúde, escolaridade, etc.
Novamente assistimos, neste momento de pandemia da Covid-19, os efeitos da segregação em uma sociedade que não se preocupou em oferecer oportunidades para uma vida digna a uma parcela significativa da própria população. As consequências são vidas em condições precárias de moradia e saneamento, potencializando sobremaneira os riscos de propagação da doença. Uma realidade que se mostra ainda mais perniciosa para as mulheres negras, vítimas de racismo e sexismo concretizados na imposição do cuidado de casa e na violência doméstica, entre outros.
Diante disso, consideramos que destacar o Dia da Abolição é falar que a luta do povo negro continua, é falar do racismo institucional que invisivelmente cria barreiras que impedem negras e negros de conseguirem os postos socialmente mais valorizados na sociedade, é falar de todas as formas de discriminação que ainda existem e que deixam sequelas emocionais que atingem principalmente a autoestima da população negra, é falar dos psicólogos que ficam alheios a esses impactos psíquicos, é falar da maioria da população que não tem seus pensamentos, crenças e imagens valorizadas socialmente, e os efeitos disso na vida dos sujeitos pretas(os) e pardas(os).
Por estes motivos, vê-se o dia 13 de maio como uma data importante para ser lembrada por denunciar a omissão do Estado Brasileiro ao longo de séculos de exclusão, bem como salientar a categoria quanto ao impacto do racismo na subjetividade negra e a importância do cuidado na prevenção e promoção de saúde mental, a formulação de políticas públicas e práticas psicológicas voltadas a este público.
Assinam essa nota as comissões de Relações Raciais, de Direitos Humanos e de Saúde do CRP16/ES.