Manifestação de repúdio da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória ao “Divã Virtual”

CRP-16 contribui com a divulgação do documento assinado pelo diretório da entidade

A Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória vem a público repudiar veementemente um tipo de prática perversa, que está sendo veiculada na mídia, nomeada “Divã Virtual”. Uma determinada “entidade”, que se intitula “Associação Brasileira de Psicanálise Clínica”, não só sugere que uma Psicanálise pode ser conduzida através de um tratamento virtual, ou seja, sem a presença real do(a) Psicanalista no dispositivo analítico, como oferece “consultas” como um “novo produto online”. Ora, sabemos que um dos princípios norteadores da condução da cura psicanalítica, pautada pelos ensinamentos de Sigmund Freud e Jacques Lacan, é a transferência estabelecida com um(a) Psicanalista, que pode ser um(a) qualquer, desde que não seja qualquer um(a). Fundamental e ético que assim seja, porque de outro modo não é possível que um(a) analisando(a) atualize, em função da presença de seu(a) Analista, sua realidade psíquica, suas questões inconscientes e, por consequência, a fonte real de seu sofrimento psíquico. E para que este princípio opere na direção de uma cura, portanto, é necessário a presença do(a) Analista com seu corpo, sua voz e seu olhar. Uma análise não é possível se não for autorizada na e pela transferência.

A proposta pela “entidade”, desta mercadoria – para nomear como se deve – vendida sob a designação “Divã Virtual”, lugar anônimo onde (falsos/as) Psicanalistas podem credenciar-se mediante o pagamento de 10(dez) mil reais à “entidade” e sem nenhum rigor com o tripé que garante a formação do(a) Psicanalista (análise pessoal, a supervisão e um tratamento permanente de estudo, de formação em uma Escola de Psicanálise) não condiz, em absoluto, com os princípios éticos da formação de um(a) Psicanalista. Ademais, o que fica absolutamente caracterizado por esta prática são seus fins lucrativos, seja pela lógica de adesão dos(as) supostos(as) “Psicanalistas” seja pelo modo como seriam realizadas as “consultas” (que ficaram reduzidas a uma “prestação de serviço), cujo pagamento pode ser realizado como quando se adquire uma mercadoria qualquer, com o cartão de crédito. O valor a ser cobrado depende de quem “atende o cliente” e será dividido com dito “divã virtual”.

A Psicanálise não é uma mercadoria. Então, se alguém, um grupo, uma associação qualquer assim procede, é porque ignora e/ou despreza profundamente os princípios, os fundamentos da teoria, da clínica, da ética da Psicanálise, ainda que possam estar amparados por meios “legais”. Neste caso, o de que se trata é de encobrir uma prática pervertida sob o manto de uma legalidade antiética.

Deste modo, nós, Analistas Membros da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória, abaixo designados, viemos a público manifestar nosso repúdio a esta prática que contradiz a lógica da Psicanálise substituindo-a por àquela do mercado quando reduz o ser humano a um objeto, ele mesmo, a uma mercadoria.

Diretório da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória (2015 – 2017):
Direção – Renata Conde Vescovi
Tesouraria – Alcione Penha Vargiu Vasconcellos de Andrade
Secretaria de Publicação – Darlene Vianna Gaudio Angelo Tronquoy
Secretaria de Cartéis – Vera Lúcia Saleme Colnago
Biblioteca – Maria de Lourdes Andrade
Secretaria de Ensino – Vanda Valle de Figueiredo Ferreira
Secretaria do Passe – José Nazar
Sessão Clínica – Andressa Barreto De Prá